Neste ensino à
distância, há alunos que são mais rápidos que outros na resolução de tarefas e,
então, estão sempre dispostos a aceitar outros desafios mais criativos. Este
desafio consistiu na passagem de um texto dramático, de António Gedeão, “ A história breve da Lua”, para um
texto narrativo. Eis aqui a proposta da Íris Andrade, aluna do 8ºE. Obviamente
que este texto foi aperfeiçoado, no que diz respeito aos aspetos da pontuação e
algumas construções frásicas sintaticamente menos corretas. Porém, o que contou
mesmo, foi o trabalho de criação e o confronto com o desafio! Parabéns à Íris
Andrade do 8º E.
A
Ignorância é triste!
Vou contar-vos uma história que espero que vos agrade. A
história não tem idade, vem de tempos muito antigos! Era eu ainda muito
pequena, mas recordo-me muito bem!
Numa noite muito
serena, ao colo da minha mãe, olhávamos pela janela, o firmamento. No profundo
céu estrelado, via-se a Lua! Estava tão cheia que parecia um balão prateado! A
Lua estava manchada e eu, na minha inocência de criança, perguntei à minha mãe:
— Mãe, já viste a Lua como está suja? Parece que tem
uma coruja, uma vaca... Gostava de a ver ao perto. — A minha mãe
ri docemente!
— De que te ris, mãe?
— Rio-me do que te
passa pela cabeça!
— Não é nada do que
estás a pensar- diz-me a minha mãe que sabia e sabe tudo!
Então, sempre bondosa e amiga, começou a contar-me a
história da lua. Disse-me que, há muitos, muitos, muitos anos, a Lua se
apresentava sempre polida, branquinha,
macia e nua. Mas, um dia, tudo mudou, quando um pobre camponês foi apanhado
pelo Senhor do Mundo, num domingo, a apanhar lenha. Caminhava curvado, devido
ao peso do molho de lenha, e lamentava-se da sua vida triste e miserável. O
Senhor do Mundo, sem piedade, amedrontou-o
e ameaçou-o, dizendo-lhe que tinha a semana toda para trabalhar e que o
domingo era para descansar. O pobre homem implorou ao Senhor do Mundo que
tivesse compaixão dele, porém, o Senhor do Mundo foi implacável e castigou-o
severamente, colocando-o eternamente na Lua, para lembrar que toda a gente deveria respeitar o dia de descanso, o
domingo.
A minha mãe segredou-me, depois, que tudo aquilo foi inventado
e que só acreditava nessa história quem fosse ingénuo e inculto. Disse-me que,
já no seu tempo, na sua aldeia, havia quem acreditasse cegamente nessa
história. Havia, porém, dois senhores que entravam em discussões acesas a
propósito dessa história: o Srº Agapito a quem o Srº Jerónimo, que era muito
casmurro, tentava convencer.
Um dia, um sábio, ao ouvir uma brutal discussão entre o
Srº Agapito e o Srº Jerónimo, riu-se e resolveu acalmar os ânimos:
— Ora vivam, meus
senhores! Pareceu-me que discutiam qualquer coisa sobre a lua... O Sr Jerónimo,
com um olhar parvo, respondeu:
— É Verdade! O meu
vizinho Agapito é tão burro que até me enerva!
Nesta altura, em
que cada um estava metido na sua casmurrice, o sábio, sensato, sempre duvidoso e
astrónomo, achou por bem acabar com aquele dilema:
— Bem, eu conheço muito bem o mundo celeste, mesmo
havendo sempre coisas novas a descobrir! Por isso, vou acalmar-vos com a minha
pouca sabedoria. Montou o seu óculo num tripé, com lentes de feitios
especiais. Depois de tudo preparado,
sempre com o Srº Agapito e o Srº Jerónimo espantados com tamanha
tecnologia, dispôs-se a fazer
demonstrações, colocando a sua sabedoria em prática. De repente exclama:
— Cá está ela! Cá está ela! A Lua dos meus amores! Venham
vê-las, meus senhores, e digam-me se não é bela! Convidou, então, o Srº
Jerónimo a espreitar pelo óculo, porém, ele não aguentou de emoção e quase desmaiou! Passou, então, o óculo ao Srº Agapito que, espantado, observava a Lua. O Sr Jerónimo,
impaciente, pergunta-lhe se consegue ver o tal homem. O Srº Agapito dá-lhe o
óculo e manda-o procurar. Incrédulo, o Srº Jerónimo diz que só vê covas e mais
covas.
Perante a constatação do Srº Jerónimo, o astrónomo
resolveu partilhar o seu conhecimento com os senhores campestres. Disse ao Srº
Jerónimo que, na verdade, a opinião daquilo que ele via não estava longe da
verdade. Disse-lhe que, realmente, a superfície da lua era imensa e estava
cheia de altos e baixos com montanhas e crateras. Então, o Sr Jerónimo,
parvamente, pergunta-lhe, então, se, por
acaso, lá tem uvas aos cachos e feras nos buracos. O astrónomo, sabiamente, compara a lua a uma
barca perdida nos espaços siderais,
dizendo-lhe que a Lua não tem água nem tem ar, só tem rochas. O Srº
Jerónimo, então, como quem já sabia
tudo, perguntou ao astrónomo se tinha luar. O astrónomo uma vez mais,
pacientemente e rasgando um sorriso, responde-lhe que a Luz da Lua vem do sol,
quando bate nela, como se a luz incidisse, batesse e se refletisse nos vidros
de uma janela. Acrescentou que essa luz que o Sol lhe dá, quando bate nas
montanhas e nas crateras tamanhas e não notamos de cá, ganham formas que
parecem formas de homem, mas que não passam de coisas inventadas.
O Srº Agapito, vaidoso, dirige-se ao Srº Jerónimo e
pergunta-lhe quem tinha razão afinal. Jerónimo, abanando a cabeça e torcendo o
nariz ainda duvidoso e teimoso, responde a Agapito que tudo não passam de
mentiras, patranhas. Perante tanta casmurrice e insistência na ignorância, o
astrónomo fez uma exemplificação usando um casaco, suspendendo-o pela gola.
Simulou que o casaco era uma montanha banhada pelo Sol. Desta simulação, provou
que se viam sombras que eram as deles, mas que, na verdade, eram as da montanha
representada pelo casaco.
O Srº Jerónimo, mesmo perante esta demonstração,
continuou casmurro e desconfiado, não por não acreditar, mas sim por não querer
perder a razão. O Sr Agapito, porém, elogiou a sabedoria do astrónomo,
dizendo-lhe que gostaria de saber o que ele sabia. O astrónomo, humildemente,
respondeu-lhe:
— Todo o tempo é de
aprender desde a hora do nascer até que a vida se acabe.
Deu, assim, uma
grande lição de humildade a todos aqueles que acham que já sabem tudo, disse-me
a minha mãe, tentando ensinar-me que a humildade é uma atitude nobre que nos leva
a querer aprender mais e mais. Assim, ainda hoje e para sempre, carrego comigo
esta lição!
Íris Andrade- 8ºE
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